25.10.2019

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Engenharia Clínica: a importância e os desafios da Medicina atual

“Um dos objetivos da Engenharia Clínica é disponibilizar equipamentos seguros, contribuindo com a melhoria dos cuidados dispensados aos pacientes.” – Lúcio Flávio de Magalhães Brito, CCE.

Essa citação resume bem a importância da Engenharia Clínica em todas as instâncias da medicina.

Oriunda das engenharias Biomédica e Elétrica, ela foca na gestão de tecnologias de saúde e usa conhecimentos de engenharia e técnicas gerenciais para melhorar o tratamento oferecido aos pacientes, viabilizar procedimentos e agilizar a disponibilidade de equipamentos médicos como as linhas USB e Air da Micromed.

Apesar de passarem despercebidos muitas vezes, esses profissionais são fundamentais em todas as etapas dos processos que envolvem o cuidado com o paciente.

Quando se fala em equipamentos, o interesse destes profissionais envolve todo o seu ciclo de vida, desde a pesquisa, desenvolvimento, produção, comercialização, instalação, operação (uso no paciente), manutenção até a obsolescência, quando um novo avanço é disponibilizado por fabricantes.

Sendo assim, pode-se dizer que estreitar relações com a indústria de equipamentos médicos melhora os cuidados oferecidos ao paciente.

Nós conversamos com Lúcio Flávio de Magalhães Brito, CCE, professor na PUC-SP e criador do canal Escola de Engenharia Clínica no Youtube.

Lúcio é engenheiro clínico certificado pela Association for the Advancement of Medical Instrumentation (AAMI) e pelo American College of Clinical Engineering (ACCE) e nos explicou tudo sobre a profissão para quem quer ingressar na área ou já atua nela. Confira!

O que é Engenharia Clínica?

A Engenharia Clínica reúne técnicos, engenheiros, tecnólogos e profissionais de outras áreas que têm interesse na gestão de tecnologias em saúde e no seu resultado, quando aplicado ao paciente.

De uma forma geral, é uma das áreas de atuação da Engenharia Biomédica.

É um reflexo da presença dos profissionais de engenharia dentro dos hospitais, mais próximo do paciente, na beira do leito, que é onde tudo acontece.

Qual a importância para a medicina?

Os avanços tecnológicos empregados nas diversas áreas da medicina impõem às organizações hospitalares uma enorme possibilidade de melhorar os processos de terapia, diagnóstico e assistência.

Muitas dessas novas tecnologias são equipamentos, dispositivos e artigos médicos que têm íntima relação com a engenharia.

Um dos objetivos da Engenharia Clínica é disponibilizar equipamentos seguros, contribuindo com a melhoria dos cuidados dispensados aos pacientes.

É importante lembrar, que conhecimentos na área de administração hospitalar e sistemas de saúde são relevantes para que os profissionais da área formem uma visão sistêmica sobre as questões que envolvem as tecnologias em saúde.

Assim, o engenheiro clínico torna-se um aliado dentro e fora das organizações hospitalares.

Qual a principal relação entre Engenharia Clínica e Telemedicina?

Atualmente se dá em diversos pontos, desde a disponibilização de infraestrutura para o tráfego de informações, até a configuração de equipamentos médicos preparados para operar em rede. Isso aumenta a confiabilidade da informação e a segurança do paciente.

A inteligência artificial já é uma realidade?

A inteligência artificial, quando comparada com o sistema nervoso do ser humano, está ainda muito distante.

Nosso sistema nervoso tem uma complexidade gigantesca. Mas, por outro lado, há muitas coisas que se pode fazer, de maneira prática, usando a inteligência artificial.

São aplicações mais simples quando comparadas à inteligência humana, mas que já trazem grandes contribuições.

Uma aplicação importante é a análise de dados coletados do paciente. A capacidade de processamento de um computador é muito maior do que a do cérebro humano nessas tarefas mais repetitivas e menos complexas.

Um exemplo são os softwares de análise de exames, como o eletrocardiograma, que podem sugerir ao médico uma interpretação daquela informação que foi medida no paciente.

Isso não dispensa o médico, que tem maior capacidade de olhar o ser humano como um todo e não como uma planilha, mas oferece a ele um apoio preciso para a tomada de decisões, ajudando a obter informações livres de erros sistemáticos e aleatórios que se pode introduzir no processo de medição.

Qual a principal influência da Engenharia Clínica para o futuro e as pesquisas da medicina?

A pesquisa não tem fim, sempre leva a outra que, por sua vez, leva a outra, e assim ela vive e abre caminhos.

O desenvolvimento tem fim, em geral termina em uma prateleira, física ou virtual. A gente tem visto vários aplicativos que têm mudado o mundo quase que do avesso.

Embora haja profissionais de Engenharia Clínica realizando pesquisa, há mundialmente um certo consenso de que essa tarefa é do engenheiro biomédico, que dedica toda sua carreira à nobre área de pesquisa – cujos resultados permitem desenvolver novos equipamentos e sistemas para fins de diagnóstico, terapia ou assistência ao paciente.

Acredito muito que no ambiente hospitalar há necessidade de mais pesquisas, principalmente sobre temas como melhor uso das tecnologias, metodologias de avaliação tecnológica, técnicas e ferramentas administrativas para aquisição, gerenciamento e obsolescência de equipamentos médicos.

Quando os planejamentos estratégicos administrativo, clínico e tecnológico andam juntos e permitem projetos de pesquisa, vejo bons resultados para o paciente.

Existe relação com a sustentabilidade?

Toda tecnologia em saúde deve ser sustentável, mas nem sempre é. O que você acha de gastar milhões de dólares para salvar uma única pessoa?

O filme Óleo de Lorenzo mostra bem isso, recomendo assistir.

A destruição da mielina, a “fita isolante” do neurônio, é algo estonteante para quem estuda um pouco o sistema nervoso, e causa um conjunto de implicações, na maioria da vezes desconhecida, que você fica a pensar… o que posso fazer em relação a isso?

A questão é voltada para as políticas de saúde que alguns dos nossos colegas começam a estudar.

É importante considerar que os avanços tecnológicos impactam o mundo todo, não só o Brasil. Então o que fazer com aquele equipamento velho que eu tenho aqui no Brasil?

Será que ele serve para meu colega da África ou de qualquer outro lugar do mundo?

Devo destruí-lo para que ele não seja usado incorretamente ou devo enviá-lo, cuidadosa e responsavelmente, para meu colega de outro hospital que está precisando nesse momento?

Há defasagem no mercado de trabalho?

O mercado de trabalho é crescente. Desde a primeira turma que foi treinada nos EUA, com apenas 6 engenheiros em 1991, – da qual eu fiz parte – vem crescendo e crescendo.

A criação dos cursos de graduação em Engenharia Biomédica é a maior expressão da necessidade desses profissionais na nossa sociedade.

Alguém tem que acompanhar essas tecnologias em saúde durante todo o seu ciclo de vida.

Cada vez mais a indústria emprega esses profissionais na cadeia produtiva, que envolve desenvolvimento, produção, distribuição, comercialização e assistência pós-venda.

Hospitais e instituições de ensino também têm empregado esses profissionais para ajudar na melhoria dos processos relacionados ao planejamento e gerenciamento de tecnologias.

Como o Brasil está colocado na área de Engenharia Clínica?

Como brasileiro, sou suspeito para falar, mas acho que estamos indo muito bem. Estamos atrasados em relação aos países mais avançados, mas nosso crescimento é espantoso.

Sabe aquele aluno que começa com uma nota baixa, mas depois vai avançando e avançando? Pois é, somos nós. Estamos melhorando a cada dia e aumentando nossa expressão em relação ao cenário internacional.

Neste ano, o nosso Congresso Mundial será realizado em Roma e felizmente teremos colegas nos representando lá. Estamos caminhando bem, em convergência com o mundo.

Qual a importância de se ter uma data comemorativa mundial?

Ajuda a alinhar as diligências para fazer, em um dia, um esforço global. O mundo precisa aproveitar melhor as tecnologias em saúde e permitir que todos tenham acesso à elas no menor custo possível.

Então, nessa data, os engenheiros clínicos do mundo todo podem investir um pouco do seu tempo para apresentar seus casos de sucesso, projetos e falhas uns para os outros e para a sociedade de maneira geral.

Atualmente é impossível avançar em saúde sem os engenheiros biomédicos e clínicos. Juntos podemos fazer melhor, essa é a ideia.

Qual a importância de ensinar Engenharia Clínica, tanto em instituições, quanto na internet (como meio de democratizar a informação)?

Há várias importâncias de cada lado que você olha. É muito bom quando você fala e é entendido de maneira plena.

Isso só é possível quando as partes que dialogam estão no mesmo nível ou em um nível desejável de comunicação e não há ruídos.

Desde o nascimento da medicina como um instrumento social e do nascimento do hospital como um recurso tecnológico em saúde, a compreensão das doenças e dos modos de cuidar das pessoas avançou, graças ao conhecimento adquirido, transmitido, absorvido e multiplicado.

Creio que ensinar é muito importante e que é uma questão pessoal, mas por outro lado, envolve também aquele que deseja aprender. Quando você quer aprender mesmo, tudo fica mais fácil para quem ensina e, quando essa conexão acontece, os resultados são explosivos.

Creio que é esse tipo de relação que o ensino nos permite cultivar e desenvolver, afinal, quem não gosta de ensinar a quem realmente deseja aprender?

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por Admin Micromed